domingo, junho 06, 2004

Privilegiadas

Minha fisioterapeuta-RPGista-guia-mentora-gurua Luciana tem um cabelo fantástico. É um daqueles encaracolados enormes que chegam quase até a cintura. E não é um "quase até a cintura" de uma mulher baixinha não, ela deve ter pelo menos uns 1,65-1,70m de altura. A dita cuja ainda é magra, o que só faz com que suas enormes mechas chamem ainda mais a atenção. Ele nem se encaixa naquele exemplo clássico de cabelo bacana, que seria o muito longo e muito liso. Mesmo assim, é daqueles que você olha e fica um bom tempo admirando, antes de retornar ao planeta Terra novamente.

Uma noite dessas, quando voltava para casa depois de um dia de trabalho, ela acabou dividindo o elevador de seu prédio com uma velhinha e sua enfermeira. Uma daquelas velhinhas clássicas, a típica vovó da televisão: pequenininha, gordinha, cara redonda e cabelos brancos (não, ela não era uma dessas senhoras que fica pintando cabelo por aí. Tem coisa mais ridícula do que velhinhas de cabelo verde?). As duas já estavam no fundo do elevador quando ela entrou, quase encostadas na parede. Depois de apertar o botão de seu andar, minha gurua ficou de pé em frente à porta e de costas para ambas, até porque o elevador era minúsculo e não havia mais onde ficar.

Depois de ter passado um andar, Luciana sentiu algo tocando seu cabelo. Segundos depois, a sensação foi embora. "Devia ter sido só impressão mesmo". O elevador passou por mais um andar, e, de repente, lá estava ela sentindo coisas em seu cabelo de novo. Virou-se subitamente. Ficou surpresa com o que viu: nossa querida e grisalha senhora estava entretídissima com seus fios, apalpando, acariciando e enrolando seus dedos por entre as mechas da fisioterapeuta. Luciana começou a rir: era de certa forma engraçado como a velhinha estava envolvida naquele extravagante exame capilar. A enfermeira, ao se dar conta da cena, soltou um "Hãã?!?!" de surpresa e deu um leve tapa no ombro da pobre velha: "Dona Irene, olhe os modos!!". Dona Irene, ignorando solenemente a bronca da enfermeira, olha para cima (lembre-se, Luciana não é baixinha!) com aquela cara de quem não estava fazendo absolutamente nada de mais, e solta: "Nossa, querida... ele é de verdade?". A Lu caiu no riso: "É sim, senhora". E fez um pequeno gesto para a enfermeira, dizendo que estava tudo bem. Daí Dona Irene começou com um daqueles papos de velhinhas: "Quando eu tinha a sua idade, meu cabelo era bonito e charmoso como o seu! Só que, com o tempo, não tem santo que ajude, né? Hoje em dia só me sobrou isso que você está vendo aqui...". E por aí foi, até que o andar da minha RPGista chegou e ela teve que descer. (Engraçado como as pessoas sempre dizem que estão "descendo" do elevador, estejam elas em processo de subida ou descida. Se é que o ato de "descer" do elevador dependeria do fato de ele estar originalmente subindo ou descendo mesmo... pensando bem, acho que não)

Curiosamente, se você, cidadão comum, virar para uma mulher que não conhece e perguntar se o cabelo dela é de verdade, provavelmente iria escutar uns bons palavrões. E se o dia estivesse chuvoso, talvez até levasse umas (supostamente) merecidas guarda-chuvadas. No entanto, as velhinhas fazem essa pergunta e, por causa de suas caras peculiares e irresistíveis, tudo o que recebem são a própria resposta da pergunta (que era o que você queria em primeiro lugar) e um sorriso que disfarça um "Que gracinha...". Porque velhinhas são simpáticas, inocentes e uns amores de pessoas.

Isso é tão injusto.

Também sou simpático e um amor de pessoa.

Fico imaginando o que me aconteceria se eu saísse por elevadores afora apalpando e acariciando cabelos de mulheres desconhecidas. Acho que só ia levar tapa na cara. E ser xingado de tarado.

E na verdade tudo o que tenho é uma pura e tenra paixão por cabelos.

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Da série "Coisas que até um tempo atrás você nunca se imaginaria escrevendo":

"Bom, eu tinha começado a juntar essas coisas nessa caixa há pouco mais de um mês atrás, para lhe dar de presente no dia de seu aniversário. (Afinal, todo nós sabemos que você resolveu não ser fácil e nascer às vésperas do dia dos Namorados. Eu esperava caprichar bem em pelo menos um dos presentes!)

Acabou que, depois do 12 de maio, algumas das coisas que eu já tinha colocado aqui e o cartão que estava montando ficaram um pouco fora de contexto, e tiveram que ir para a lata de lixo. De uma forma ou de outra, ainda sobraram aqui dentro algumas coisas que possivelmente terão um mínimo valor prático (NESTE LUGAR DO PAPEL ESTAVA COLADO UM ADESIVO QUE OS LEITORES DESSE BLOG NUNCA VÃO SABER O QUE É... ATÉ PORQUE NINGUÉM ENTENDERIA MESMO). Ou de repente não, sei lá.
No mais, que o seu próximo ano seja melhor do que aquele que passou, que você tenha um ótimo dia de aniversário e o tire para passar com as pessoas de quem você gosta.

Felicidades,

Marcelo"


E sabe que entregar o raio da caixa me fez um bem danado? Eu achava que ia ser bem mais estranho e desconfortável do que realmente foi.

O lado bom disso tudo é que ultimamente meus relacionamentos "posteriores" têm se mostrado melhores e mais enriquecedores do que os "anteriores" (falo do meu último em relação ao penúltimo, do penúltimo em relação ao antepenúltimo, etc). Sei que você não pode dar nenhum tipo de qualificação "ordinal" a namoros; o que quero dizer é simplesmente que aqueles que se seguem sempre adquirem um significado maior na minha vida do que aqueles que vieram antes. Não sei se deu pra entender.

Entendendo ou não, a moral da história é que, a coisa continuando por esse caminho, mais alguns namoros e, voilà, lá estarei eu casando com uma linda noiva no altar da igreja.

Ou no cartório, caso ela tenha a mesma simpatia em relação ao catolicismo do que eu.