terça-feira, julho 06, 2004

Dormindo com alguém... te olhando

De domingo para 2a feira da semana passada, fiz algo que nunca tinha feito antes em minha vida: literalmente virei a noite estudando. Sei que a "virada" de domingo é a mais injustificável de todas: afinal, você em tese teve toda a insuportável e melancólica tarde de domingo para cumprir com as suas devidas obrigações. Bem, posso citar mil e um bons motivos pelos quais não estudei (estava na companhia de minha adorável priminha em casa, recebi a visita do grande Rizzo, entre muitas outras), mas vou poupá-los disso (hum, acho que já não os poupei). O fato é que já eram 10 da noite e eu não havia lido nem mesmo a bibliografia básica da matéria, quanto mais resolvido algum exercício. A prova era às 7 da manhã, então a decisão mais sensata naquele momento era certamente varar a noite estudando.

Quando era 6:15, lá estava eu rumo à minha prova. Eu, meu lápis, minha borracha, minha régua, meu compasso (sim, essa incrível matéria envolve analisar as decisões no Legislativo através de desenhos de círculos e retas no plano... não, isso não faz o menor sentido), meu celular, minhas olheiras e meu prendedor de cabelo (cujas técnicas, a cada dia que passa, domino mais!). Após a prova ainda assisti mais uma aula, que foi até cerca de 10 da manhã, quando então me preparei para voltar alegremente para casa, onde uma macia, deliciosa e confortável cama me aguardava, ansiosa e lânguida por me receber deitado em seus braços.

Ah sim. Um dos motivos pelos quais eu não havia começado a estudar antes de domingo era um infame trabalho em grupo de Econometria, que estava fazendo com meus queridos amigos Yie Chen e Larissa. Havia feito a parte que me cabia até sábado, de modo que já tinha ficado livre do fardo econométrico. No entanto, lá na PUC, Larissa me lembrou que o computador dela não estava aceitando o software necessário aos cálculos do trabalho e veio choramingar comigo que não estava com ânimos de fazê-lo na faculdade (de fato, fazer trabalhos nos computadores do Departamento de Economia é algo detestável, sempre tem algum professor ou aluno passando, falando, etc).

Eu, legal e simpático como sou, fiz o convite que ela tanto queria:

- OK, estou pegando o carro para ir para casa agora, se você quiser venha comigo e você faz o trabalho lá no meu computador.
- Mas Marcelinho, não quero te atrapalhar, olhe as suas olheiras, você está precisando dormir...
- Tolinha... E quem disse que não vou dormir com você lá???
(ôôô frasezinha com múltiplos sentidos... hahahahaha)

Pois é, convite irrecusável esse, não? Não é todo dia que você tem a incrível oportunidade de fazer um magnífico trabalho de Econometria com um sujeito bacana como eu dormindo e babando no travesseiro na sua frente. Definitivamente, não há programa melhor para uma tarde de 2a feira.

Depois de almoçar (e os que me conhecem pessoalmente sabem que isso não leva menos do que uma hora e meia) e apresentar minha convidada à casa e ao PC que lhe aguardava (essas pessoas que ainda teimam em usar MAC...), tirei meus travesseiros do armário (um para a cabeça, outro para as pernas - os ortopedistas dizem que é ótimo para a coluna) e deitei sorridente, pronto para encontrar meu saudoso amigo Morfeu.

- Cara, não acredito, você não vai ficar dormindo com esse travesseiro entre as pernas, sorrindo desse jeito, enquanto eu fico aqui fazendo essa porcaria. Quando uma pessoa visita a minha casa, eu ofereço pães de queijo... era o que você devia fazer agora.
- Ótimo saber disso, já sei que serei bem tratado da próxima vez que lhe visitar. Agora, com licença, Morfeu e doces sonhos me esperam.
- Caramba, NÃO DÁ para alguém dormir no mesmo quarto em que uma visita está fazendo um trabalho para o SEU grupo da faculdade!!! Isso é completamente inaceitável, deselegante, deseducado...

E, antes que ela terminasse a frase, eu já estava dormindo. Obviamente, só tomei conhecimento da parte relativa ao deselegante e deseducado depois que acordei, quando a história me foi recontada por ela.

Tive um sono digno dos deuses. Nunca uma dormida de 2a à tarde havia sido tão boa (e eis que aqui lhes fala a voz da experiência). A única coisa ruim das cochiladas após o almoço é a forma como você acorda depois: uma sensação horrível de quem acabou de comer um boi inteiro (pois é, posso garantir que mesmo os que não comem carne também sentem isso). Surpreendentemente, acordei profundamente descansado e relaxado, como há muito eu não via (semana de provas dá nisso). Mesmo a cortina a Larissa fez o favor de abaixar, de modo que o quarto se encontrava naquela "meia penumbra" ideal para o sono vespertino. Muito gentil essa menina! E o melhor de tudo, o trabalho de Econometria estava praticamente pronto.

Foi uma 2a feira extremamente produtiva. Sugeri à Larissa que este ritual fosse repetido toda semana. Por alguma razão que não consigo compreender, ela não gostou muito da idéia. Em vez disso, ela está agora em Paris, aguentando aqueles franceses chatos e fedorentos. Humpf, tem gente que não sabe mesmo se divertir...