terça-feira, julho 13, 2004

Música para relaxar - parte I

Semana passada descobri que há poucas coisas no mundo que me irritam mais do que música para relaxar.

Não que eu tenha tido essa revelação surpreendente assim, tão subitamente. Minha história de ódio com esse "gênero musical" já tem pelo menos 2 anos, quando comecei meu tratamento de RPG com a mesma Luciana do post "Privilegiadas". Se você agora pensou em vir com uma daquelas frasezinhas babacas do tipo "Ah, que bacana, e no RPG você é quem, o mago, o anão ou o guerreiro?" (né Damasceno), esqueça. Essa piadinha já está mais do que batida, assim como aquela que envolve me oferecer bebidas alcóolicas ou doces açucarados em festas, sabendo que não vou aceitar (Né... TODO MUNDO!!!). Sabe-se lá porque, toda clínica fisioterápica cisma em "elevar" o ambiente da sala de consulta colocando músicas de relaxamento durante a sessão, para o azar dos pobres pacientes. Tal trilha sonora envolve muitas vezes até barulhos e emissões sonoras daqueles bichos que você só vê em documentários da National Geographic, como golfinhos, focas ou pingüins (olha só, até escrevi com trema). Sinceramente, não dá pra entender como uma pessoa pode ter a idéia de girico de achar que um golfinho berrando vai realmente relaxar alguém. O pior dessa história toda é que a música que permeia o aposento quase sempre vem de um aparelho de som central, que a transmite para todas as salas da clínica. Por mais que minha RPGista tenha realmente um gosto musical decente, nossos ouvidos continuam à mercê do que a louca da recepcionista decide colocar no estéreo ao lado dela. Só que, ao menos fazendo RPG, esta música não me incomoda tanto, visto que eu e Luciana passamos as sessões inteiras falando besteiras, sem dar a menor bola para o alto-falante da sala. E o tratamento vem dando muito certo. Quer prova melhor para dizer que a sinfonia de focas é de fato completamente desnecessária?

Apenas em uma semana, há muito tempo atrás, conseguimos burlar, mesmo que por alguns poucos minutos, os malditos golfinhos histéricos. Por razões que não vêm ao caso agora, a dita cuja precisava de um curso intensivo de Helloween, uma banda clássica de heavy metal alemão. Basicamente, ela precisava aprender as músicas de forma que pudesse ir ao show que ia rolar no Canecão (isso foi em meados de setembro passado) e não "fazer feio", ou seja, minimamente conhecer os hits da banda (e por acaso grupo de heavy metal de verdade tem hit?) e quem sabe até se arriscar a cantarolar uns refrões. Como todo bom metaleiro prestativo faria no meu lugar, lá fui eu para a consulta munido de todos os CDs do Helloween que tinha. A intenção era só lhe emprestar os CDs, para que ela os levasse e escutasse em casa.

Obviamente , durante a consulta surgiu a previsível idéia: "Ei, Marcelo, por que a gente não coloca um desses CDs lá no som? Vamos aproveitar que a Vivi (a recepcionista) não está aqui, e não vai ficar dando piruadas na música que a gente colocar. O que você acha de fazer RPG ao som de heavy metal?". "Pô, ótima idéia! Só com você mesmo que eu posso fazer uma coisas dessas. Pega aí o 'Better Than Raw', tô afinzão de escutar esse!". E lá foi ela levar o CD para a recepção, se esquecendo completamente de que aquele aparelho de som era ligado a TODAS as salas da clínica. "E coloca bem alto, esse tipo de música é para escutar BEM ALTO!!!", berrava eu lá de dentro da sala.

Pra quem não conhece, esse CD começa com uma orquestra tocando uma peça clássica, uma graça só. Alegres violinos por todos os lados. Pouco tempo depois, entram a bateria e as cordas distorcidas dos loucos alemães; cara, a Luciana tinha realmente colocado o volume MUITO alto. Em seguida entra a voz aguda do Andi Deris, soltando seus gritinhos histéricos naquele bom e velho estilo de metal lalala "estão apertando as bolas do meu saco". Bom, pelo menos é bem melhor escutar um vocalista alemão histérico do que um golfinho idiota. Eu, deitado na maca, me regozijava com aquela trilha sonora.

Pena que nossa felicidade durou pouco. Em questão de segundos após o início de "Push" (nome desta música), descia pelas escadas uma das fisioterapeutas que atendia nas salas do segundo andar, desesperada: "O que está acontecendo aqui, a dona Jussara está quase tendo um treco lá em cima!!!". A expressão facial de Luciana transformou-se naquela conhecida "Ih, fiz merda!": "Putz, me esqueci que o som era ligado a todas as salas da clínica!!". Como era de se esperar, o CD do Helloween foi devidamente retirado do aparelho de som.

Por força dessas circunstâncias, foi exatamente neste dia que descobri que o som era ligado simultaneamente às salas da clínica inteira; de certa forma fiquei aliviado em saber que as irritantes canções que eu ouvia não tinham nada a ver com a minha fisioterapeuta e sim com o mau gosto da dona do lugar.

Acho que eu deveria ser contratado para dar uma modernizada e revitalizada na CDteca de lá.

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Isso na verdade não era o que eu tinha planejado escrever no post, mas comecei a contar essa história e acabei me alongando demais (só pra variar). Eu nem queria falar de alguma coisa relacionada a RPG novamente, acho que torna o blog um pouco repetitivo.

Mas enfim, a parte 2 do texto falará do assunto sobre o qual eu queria inicialmente escrever. Ela virá no próximo post, a ser publicado em breve :)

Humpf, era o que faltava mesmo. Não só fazer posts gigantes, como agora dividí-los em partes 1 e 2 !