quinta-feira, julho 22, 2004

Música para relaxar - parte II

Bom, na verdade, o que tinha incitado tamanha revolta com músicas para relaxar na semana passada tinha sido minha primeira sessão de acupuntura, em uma clínica especializada em medicina chinesa.

Acupuntura???

Sim, acupuntura.

Como muita gente já sabe, o princípio por trás dos meus estranhos hábitos alimentares é o "Princípio Único Yin-Yang do Equilíbrio do Universo". Hehehehe, adoro dizer isso, me divirto horrores com as expressões faciais das pessoas logo após ouvirem essas palavras. Pena que com o blog não dá para eu ver a cara dos leitores. Em geral, em uma conversa qualquer sobre alimentação, quando acabo mencionando que não como carne, as pessoas sempre perguntam: "Ah, por que, você é vegetariano?". Quando não estou a fim de dar maiores explicações acerca do que eu como ou deixo de comer, simplesmente digo que sim e corto o assunto. Mas, em algumas ocasiões, vou e digo: "Não exatamente, sou macrobiótico". O dono da pergunta quase sempre faz uma cara de ponto de interrogação. Então vem a frase matadora: "Não tem nada a ver com vegetarianismo, até porque eventualmente posso comer carne branca se eu quiser. A diferença é que minha alimentação é baseada no Princípio Único Yin-Yang do Equilíbrio do Universo". Vocês precisam ver as caras que as pessoas fazem quando ouvem um Zé Ruela como eu dizer isso com a cara mais lavada do mundo! Hahahaha

Só que agora acho que trabalhar com o Yin e Yang apenas no campo alimentar não tem sido tão satisfatório como antes, e decidi mergulhar mais a fundo na medicina chinesa. Fui conhecer essa clínica que mencionei acima com a idéia de basicamente complementar meu tratamento com outros elementos dessa medicina, como acupuntura, ervas (hum...) e afins. E eu achando que o lugar seria um daqueles cantos isolados de Vargem Grande, cheio de mato para todos os lados, com aquelas miniaturas de duendes e sábios carecas baixinhos e de barba branca (será que sou o único que tem verdadeiro pavor destes bonecos medonhos?). Que nada! A casa ficava em plena Botafogo, quase na Voluntários da Pátria, uma barulheira dos infernos. Até a fachada não era exatamente o que eu esperava: um muro cheio de arame farpado em cima, com várias plaquinhas de caveira no topo, nas quais se viam os dizeres "Perigo, cerca elétrica!". Eu olhando para aquilo e tentando realmente acreditar que aquela era a clínica que iria me ajudar a alcançar a cura através do milenar Princípio Único. Eu hein. Juro que até cheguei a conferir o número da casa novamente, para me certificar de que estava no lugar certo. Aparentemente, estava. Bom, então a única coisa que eu podia fazer naquela hora era entrar mesmo. Perder a viagem é que eu não ia.

Após passar pelo procedimento padrão do lugar, que não vem ao caso agora, fui colocado em uma cama para ser agulhado pela primeira vez (OK, isso pegou muito mal. Vocês aí, sosseguem com as piadinhas!) pelo acupunturista de plantão. A sala era muito bem decorada e aconchegante (tá, já é a segunda frase desse parágrafo que soa extremamente gay). Parecia ter uns toques de feng-shui (meus conhecimentos nesse campo se resumem ao que aprendi com as encheções de saco da minha mãe). E a cama era realmente relaxante! (hum, é melhor eu parar de colocar um parênteses por frase agora. Hehehe) Fiquei deitado naquela sala escura por um bom tempo, esperando o acupunturista e também tentando dormir, porque para variar eu estava com sono naquele dia.

O sujeito chegou e, após passar álcool nos pontos em que as agulhas iriam entrar, começou seu trabalho sujo. Todo mundo costuma falar que acupuntura não dói e coisa e tal... Putz! Ao contrário de muita gente, não tenho problema algum com exames de sangue (para falar a verdade não sinto absolutamente nada quando os faço), agora, essas agulhas de acupuntura dão um nervoso desgraçado. O pior é que elas entram também em lugares super esquisitos, que possuem poucos músculos ou gorduras, como o tronco ou o pé. Não dói tanto assim, mas dá uma tremenda duma agonia. E eu deitado lá, com aquele monte de seres estranhos perfurando meu corpo, sem nem mesmo ter visto como são as tais agulhas. Juro que estava morrendo de curiosidade para ver como elas eram, porque o cara não tinha me mostrado antes de me espetar. Só que eu estava imobilizado dos pés a cabeça, e qualquer mexida que eu desse com a minha cabeça as fariam balançarem... Que agonia.

Tentei fechar os olhos, tentei dormir, tentei relaxar. Mas assim que o acupunturista saiu da sala e fiquei sozinho lá dentro, os sons emitidos pelo alto-falante no canto superior esquerdo do aposento ficaram mais evidentes do que antes.

NÃÃÃÃÃÃO !!!!

Tocava um daqueles malditos CDs de música de relaxamento. O que eu tinha que aguentar toda semana no RPG já era o suficiente pra mim.

Por incrível que pareça, o CD do lugar não tinha focas nem golfinhos, mas mesmo assim conseguia ser pior ainda do que esses. Em vez de um jardim zoológico, agora eu tinha que aguentar uma flauta chinesa tocando uma das melodias mais lentas e manjadas de todos os tempos. Só pelo timbre da flauta já dava para visualizar o sábio careca baixinho de barba branca tocando aquela porcaria feliz da vida, andando e saltitando pelos vastos campos chineses, achando que enchia o ambiente com gotas de felicidade. O que dava nos nervos era a lentidão com o que o sábio careca soprava as notas, prolongando-as ao máximo que podia. A música ainda seguia as estruturas mais previsíveis possíveis, parecia até ser baseada em uma daquelas escalas pentatônicas que todo mundo que começa a tocar violão/baixo/guitarra aprende logo nas primeiras aulas. E o velho alternava sempre notas mais agudas com notas mais graves. Aaaaahhh !!! Nunca tinha ouvido aquela canção antes, mas conseguia prever cada nota que o sujeito tocava. Ou seja, em vez de tentar relaxar (que é o que eu deveria fazer, até para a própria acupuntura ter um efeito melhor), minha diversão passou a ser adivinhar as notas da flauta do cara. Pra completar minha sessão de relaxamento, o quarto ficava nos fundos da casa. Atrás de mim, passava a Voluntários da Pátria e seu tráfego de centenas de carros por minuto. Buzinas e flauta chinesa: pronto, a sinfonia estava completa!

Depois de um suplício que deve ter durado pelo menos uns 20 minutos (difícil dizer, o tempo não passa não tão rápido quando você está todo espetado e ao som de trilha sonora tão agradável), a médica entrou no quarto e acendeu as luzes:

"E aí, relaxou?"
"Ôôô! E como..."

Quando retornei na semana seguinte, pedi que ela pelamordedeus abaixasse o volume daqueles alto-falantes. Ela ficou bem surpresa: "Nossa, trabalho aqui há mais de 10 anos e você é a primeira pessoa que me pede isso".

?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?

A cada dia que passa acredito mais e mais que nesse mundo só tem gente louca mesmo.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

po passei a mesma coisa q vc bjos

6:29 PM  

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