domingo, julho 17, 2005

Telefones – parte I

Porque meus problemas com telefones não se resumem ao celular estragado...

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Em uma certa tarde, no trabalho. O telefone toca.

- Triiiiiim..... Triiiiiim.....
(reparem na minha incrivelmente perfeita e realista simulação de campainha de telefone)

- Marcelo.
- Alô, Marcelo? Aqui é a Michelle...

Em um daqueles impressionantes arroubos mentais que duram apenas alguns milissegundos, antes mesmo que a Michelle fosse capaz de completar a frase, meu cérebro apressadinho já foi capaz de juntar as peças e chegar à sua brilhante conclusão... óbvio que era ela! A voz era idêntica à da minha amiga Michelle, lá do curso de inglês do Méier. Ela inclusive tinha aquele meu telefone! Não restava dúvidas, e reagi como era de se esperar:

- FAAAAALA MICHELLE !!!!!!!

Ela segue...

- ... da PR Newswire Brasil, nós estamos contatando alguns analistas de mercado, para saber se...

Não, não era a Michelle, e muito menos uma ligação pessoal. Nessa hora eu não sabia onde esconder minha cara (até porque minha mesa também não é um ambiente exatamente propício para tal). A telefonista da companhia deve no mínimo ter pensado que no meu banco só há loucos, que cumprimentam desconhecidos no telefone com enfáticos “FAAAAAALA”. Mas como ela foi compreensiva o suficiente para prosseguir o diálogo como se nada de anormal houvesse acontecido, optei por adotar o mesmo procedimento.

O único problema nisso é que ao redor de mim sentam uma meia dúzia de pessoas que já tinham ouvido a minha calorosa saudação, e estariam prontas para zoar com a minha cara caso se dessem conta da aparente "seriedade" da ligação. Ou seja, além de dar seqüência ao diálogo com minha querida Michelle normalmente, eu ainda teria que fazê-lo de forma que meus companheiros não percebessem que aquela conversa era, de fato, profissional. Vejam como, com muito custo e um pouco de artimanhas e jogos verbais, consegui não mencionar em nenhum momento empresas ou setores que acompanho diariamente, muito menos nada estritamente ligado ao banco:

- Marcelo, você estaria interessado em receber nossas informações corporativas?
- Claro, Michelle. (Denotada ênfase no chamar pelo nome, uma efusiva demonstração do meu grau de intimidade com a interlocutora)
- Mas quais setores você acompanha, e gostaria de receber essas informações?

Reparem na cruel “pergunta-armadilha”, que fala justamente de setores, ao mesmo tempo em que não pode ser respondida com um “sim” ou “não”. Solução: rebater com uma nova pergunta, é claro!

- Quais você tem disponíveis aí?

Uma pergunta perfeitamente cabível em uma conversa com uma amiga sua. Nós poderíamos muito bem estar falando de coisas cotidianas, como cores de cuecas ou os possíveis sabores dos bolos da festa junina que estávamos organizando.

- Praticamente todos... Mineração, siderurgia, telefonia, petróleo e gás, bancos, transportes, logística...
- Hum, gostaria desses três últimos.

SAÍDA SENSACIONAL! Revela minha clara preferência na lista de opções supostamente mencionada pela minha amiga Michelle. Tudo bem que eu nem chegue perto do setor de logística, mas nem tudo é perfeito.

- OK, então vou lhe cadastrar aqui. A maioria das nossas informações é repassada por e-mail, tudo bem?
- Claro, pode me mandar por e-mail. (Porque não há nada mais normal do que mandar listas de cores de cuecas e sabores de bolos por e-mail)
- OK, uma boa tarde Marcelo.
- OK, até logo. (Mais um definitivo sinal de intimidade, sinalizando a brevidade de meu próximo encontro com minha amiga)

Só espero que ninguém do trabalho acesse secretamente este blog, do contrário todo o meu esforço terá sido em vão...