sexta-feira, agosto 06, 2004

Incompreensão

Em uma noite dessas no início da semana, ligando para uma amiga minha. A mãe dela atende.
(Para manter a privacidade da garota, vou chamá-la de XYZ. Ou melhor, de YYZ)

EU: "Boa noite!!!"
MÃE: "Boa noite!!!!!!"
EU: "A YYZ está?"
MÃE: "Está sim. Mas ela não pode falar agora. Quem é?"
EU: "É o Marcelo."
MÃE: "Opa, oi Marcelo!! Como vai você?"
EU: "Tudo ótimo, e você?"
MÃE: "Também! Poxa, a sopa está acabando..."
EU: "Ah, vocês estão jantando?"

(Silêncio...)

MÃE (aos risos): "Nããão!! Eu quis dizer que as férias de vocês estão acabando!! As aulas na PUC começam semana que vem, não?"
EU (totalmente sem graça): "Aaaahhh... É, é sim..."

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Hoje, às 11 e meia da noite, voltando de carro da Cobal do Leblon, na companhia da mesma amiga YYZ.
(OBS: Sou o único que até hoje achava que só existia uma Cobal, a do Humaitá/Botafogo??)

YYZ: "Olha só Marcelo, que linda a lua!!!"
EU: "Ããã?"
YYZ: "A lua, Marcelo. Veja como ela está linda esta noite!!"
EU: "Pô YYZ, ela está igual a ontem e a todos os outros dias... Branca como sempre. Não sei qual é a graça que as pessoas vêem na lua, nas estrelas, nos planetas. Eles estão sempre lá, semi-imóveis e quietos no canto deles."
(Detalhe: YYZ é apaixonada pela lua, estrelas, planetas e um monte desses outros objetos celestes. É assídua freqüentadora do Planetário. Chegou inclusive a fazer um daqueles cursos malucos sobre estrelas que eles têm lá.)
YYZ (absolutamente revoltada): "CARACA MARCELO, BRINCADEIRA !!! Que romântico você é, hein? Pfff..."
EU (em tom desanimador/reconciliador): "Tá... tá bom, tá bom... a lua até é legal..."

(Um pequeno segundo de silêncio)

YYZ (aos risos): "Meu Deus, quem é que vira e diz que 'a lua até é legal' ?? Só você mesmo... ainda mais nesse tom, que não convence ninguém...por favor! Hahahaha"

Cara, um absurdo alguém dizer que não sou romântico. Com base em um comentário impensado e inocente como esse de hoje à noite, minha amigassa YYZ vai e tira conclusões precipitadas a meu respeito. Para vocês verem que, quando digo que muitas vezes as pessoas não me compreendem como deveriam, não estou brincando.

E, embora alguns possam dar interpretações capciosas para esse diálogo (mostrando mais uma vez como posso não ser devidamente compreendido), a YYZ é só minha AMIGA. Olhem o respeito, embora não tenha dado as caras por esse blog há muito tempo (e bota tempo nisso), ela pode vir a ler esse post!

terça-feira, agosto 03, 2004

Nostalgia

Semana passada passei por um daqueles períodos de nostalgia que volta e meia batem na gente. Você fica um tempão se lembrando das molecagens que rolavam na escola, dos lugares em que seus pais o levavam no final de semana, coisas desse tipo. A culpa desse surto nostálgico da última semana foi nada mais nada menos do que de uma das empresas mais odiadas do capitalismo moderno, a vendedora da carne de minhoca mais apreciada pelas crianças do planeta, o McDonnalds.

Eu apenas estava em um ônibus, a caminho do Méier. Foi meio por acidente que, na exata hora em que ele passava em frente à filial da rua Maxwell, olhei para a esquerda e dei de cara com o brinquedo gigantesco que só aquele McDonnalds tem. Esta filial é, de longe, a "melhor do mundo". Não pelo gosto inconfundível da carne geneticamente modificada do hamburger ou das batatas fritas de plástico (mesmo porque isso tanto o Mac da Uruguaiana como o do Champs-Elysées também têm). O barato dali era o enorme brinquedo da área infantil, que até hoje tento descobrir o que é exatamente. Parecia uma espécie de espaçonave, mas com vários túneis que davam voltas e iam até o alto, em uma altura que a nossa limitada perspectiva de criança considerava fantástica. Meus pais costumavam me levar lá com frequência, até a maldita hora em que resolveram inaugurar aquele da Barão de Mesquita, perto do Bob's. Desde então este passou a ser o McDonnalds "favorito" da família. Humpf, o brinquedo do lugar não chegava nem aos pés do da Maxwell. As crianças também eram mais bobocas, pois nem mesmo guerrinha de bolas rolava na piscina de bolas de lá. A partir dessa época, fui progressivamente sentindo um crescente desgosto com o McDonnalds. O resultado final vocês podem ver hoje, olhem no que deu.

Só que não adianta, quando me batem esses momentos de nostalgia, tem sempre uma história da qual eu inevitavelmente me lembro: a do boneco Fofão. Quer dizer, na verdade são duas, a do Fofão e a das Playboys que o meu pai me dava para fazer aqueles trabalhos de corte e colagem do CA (tipo achar figuras com a letra C, M, P, etc). Mas essa história das Playboys vai ficar para outro dia.

Com certeza aqueles que têm entre 18-23 anos se recordam de uma das maiores lendas urbanas brasileiras da década de 90. Quem não se lembra daquela infame história de que os bonecos estariam amaldiçoados pelo diabo, explicando o estrondoso sucesso de vendas da segunda tiragem, em contraste com o fracasso da primeira?

Ao que parece, os boatos começaram com uma suposta notícia veiculada no Jornal Aqui Agora, do SBT (falando nisso, alguém sabe por onde anda o Gil Gomes hoje em dia?). O fabricante dos bonecos estaria morrendo (ou teria morrido, sei lá), mas antes de dar seu último suspiro confessou que havia feito um pacto com o diabo, para que a venda da segunda tiragem do boneco fosse enormemente bem sucedida (o que de fato foi). Devido a isso, dentro dos brinquedos, por baixo da roupa e da espuma interna, haveria algum artefato esquisito, como uma vela preta, uma adaga ou outros objetos nada educativos para as crianças fãs do apresentador infantil.

Nessa época, eu morava em um prédio em que havia umas 7 ou 8 crianças da minha idade. Bom, não exatamente da minha idade, já que eu era o caçula do grupo. Se não me engano, quase todos eles eram uns 2 ou 3 anos mais velhos do que eu. Bom, a história da tal notícia se espalhou rapidamente pelo prédio (notícia essa que até hoje não sei se realmente existiu). Eles sabiam que eu tinha um boneco daqueles e vieram desesperados para o meu apartamento inteirar-me de todo o boato. Meu vizinho de baixo tinha uma irmã mais nova que possuía um deles também. Horas antes, o brinquedo da pobrezinha teria sido aberto com o canivete do garoto da cobertura, e dentro dele eles teriam encontrado uma vela preta.

"Vocês estão malucos? Ninguém aqui vai abrir meu Fofão!", eu protestava.
"Ah, olha lá como ele está falando, o pobrezinho já está possuído pelo demo!", berrava a Rafaela, uma menina insuportável, irmã do garoto da cobertura.

Isso que dá ser o mais novo (e o mais magro) do grupo. Passaram por cima de mim e meu boneco foi retirado à força por 5 brutamontes de 12-13 anos de idade, além de 2 meninas histéricas. Levaram o brinquedo demoníaco para o play do prédio, onde fizemos uma rodinha no chão antes de dar início ao esquartejamento do boneco. Para falar a verdade até comecei a entrar no clima da história, e passei a lembrar de como eu tinha pesadelos horríveis sempre que dormia com ele do meu lado.

Mas ainda assim dava pena olhar para aqueles garotos sem coração perfurarem todo o Fofão e emporcalharem o chão com aquela espuma repulsiva. A roupa do boneco ficou toda rasgada, o chão branco e nenhum sinal de vela preta, adaga ou crucifixo. Eu olhava para cada um dos garotos, puto da vida de ver um de meus brinquedos favoritos destruído assim, à toa. Pensava em quem eu ia voar em cima primeiro. Depois, vi que o mais sábio naquele momento (para falar a verdade, não só naquele momento) era que eu não voasse em ninguém, pois, mais uma vez, lembrei que eu era de longe o menor do grupo.

Os garotos estavam decepcionados com a falta de graça do meu boneco:

"É Gugu, só o da sua irmã mesmo que estava amaldiçoado, que sacanagem. Bom galera, vamos recolher isso aqui e jogar no rio Maracanã.", disse o dono do canivete, a arma do homicídio doloso.

Rio Maracanã, é mole? Era inacreditável como em questão de 20 minutos o boneco havia sido retirado de sua vida feliz na estante do meu quarto, ao lado do Neb (um dos bonecos mais legais de todos os tempos. Aquele ET de sangue verde gosmento, que todo mundo tinha o maior nojo) para ter suas cinzas (Cinzas? Ou espumas?) jogadas naquele rio imundo.

Sinceramente, até hoje não não consegui acreditar que o Fofão da irmã do meu vizinho realmente tinha uma vela preta dentro. Pra mim isso foi papo furado de gente que queria testar o canivete novo no meu boneco. No final das contas, o lado bom desse episódio todo foi que, ao contrário de muita criança por aí, passei o resto da minha infância totalmente desencucado com essa maluquice de Fofões amaldiçoados. E pensar que até hoje tem muito marmanjo que acredita nisso. Na minha cabeça, essa história é invenção dos mesmos manés que ficam tocando vinis ao contrário, em busca de mensagens subliminares nos discos de rock. Hoje em dia, acho que essas mesmas pessoas deviam escutar black metal. Talvez descobrissem que há muito tempo esse tipo de mensagem na música já deixou de ser subliminar. É fogo, tem horas que acho que devíamos nascer com um filtro para tanta abobrinha que somos obrigados a ouvir.