domingo, julho 16, 2006

O Bonequinho desistiu

Isto foi na época em que fui ver “A Chave Mestra” no cinema.

Não sei se vocês já tiveram a oportunidade de ver este filme. Trata-se de um daqueles suspenses metidos a terror (ou o contrário) que beiram o insuportável. Tem-se de tudo que é mais convencional: “a menina boazinha que vai trabalhar de babá de velhinho na casa esquisita afastada da cidade”, “a velha mau-humorada e misteriosa responsável pela contratação da babá”, além do clássico “advogado bem-tratado da família da casa”, que é colocado ali puramente para ganhar a simpatia e confidência da pobre menina.

Colocando a história para girar em torno destes 3 personagens no mesmo local durante 1 hora e meia (local este que nada mais é do que a sombria casa amaldiçoada que serve de abrigo à velhinha e seu adoentado esposo), o filme é completamente parado, sem sal e desinteressante, além de não ser capaz de dar um susto sequer na platéia. Se não fosse pela minha companhia na ocasião, teria facilmente ido embora na metade da sessão, me juntando à exibição de “Os Incríveis” que ainda ocorria na sala ao lado.

Mas não o fiz e, para minha surpresa, o roteirista simplesmente se redimiu de todas as formas possíveis no final da história. Sério, aquele foi um dos finais mais sensacionais, surpreendentes e bem bolados que já vi em toda a minha vida! Os créditos começaram a subir e eu ainda estava ali sentado, de olhos arregalados e boca aberta, estupefato com a genialidade do responsável por desfecho tão magnífico.

Viro-me para ela, já pronto para lhe contar de todo o estado de admiração em que me encontrava, quando a senhora sentada a 2 cadeiras da gente se levanta:

- Meu Deus, mas que filme péssimo!!!

Pego de surpresa por exclamação tão espontânea, sincera e indignada, cheguei a me esquecer por alguns instantes do que ia falar.

Antes mesmo que eu pudesse refletir sobre o ocorrido, o gordinho à nossa frente, que passou o filme inteiro mastigando um interminável saco de pipocas, também se levantou:

- Este é o pior filme que já vi nos últimos tempos!!!

Ainda que um pouco desagradado com as opiniões contrárias à minha, realçadas pelas reações um tanto quanto enfáticas de ambos os espectadores, tentei retomar o meu ponto:

- Nossa, mas você não achou que...

Quando então o garotinho atrás da gente, enfurecido, solta aquela que é a frase mais velha e batida de todas, aquela que, dentre as sentenças passíveis de serem desferidas contra um filme de terror, é certamente a mais desprezível:

- Mas esse filme era pra rir ou pra assustar?!?!?!

Depois dessa me rendi em definitivo e desisti de prestar qualquer elogio ao filme, suplantado e convencido pela unanimidade gerada pelos meus companheiros de sala de cinema. Ela:

- Marcelo, você não ia falar alguma coisa??

- Ahn, eu? Ah, nada não..... Filminho ruim, né?

domingo, julho 09, 2006

De como a voz passiva não serve ao seu propósito

Era um sábado à tarde, eu prestes a ir a um churrasco de um amigo em Itaipava. Ressuscitado o bom e velho Palio, não era como se eu estivesse exatamente adiantado no quesito “horário” (lembrem-se que macrobióticos precisam forrar o estômago antes de ir a um evento de apreciação de carnes e cerveja como esse).

Como uma pessoa precavida e prudente, minha viagem é obviamente precedida de um abastecimento no posto, com direito a checagem de água e óleo e calibragem dos pneus e estepe. E foi exatamente quando os problemas começaram.

Logo após a calibragem do estepe, no curto espaço de tempo entre sua armazenagem e a batida final do porta-malas, as chaves do carro simplesmente fugiram da minha mão de uma maneira extremamente engenhosa, sem que eu pudesse perceber ou levantar qualquer suspeita de tal comportamento. Esta suspeita só ocorreu no momento em que fui inutilmente tentar abrir a porta do motorista, tarefa esta que se torna deveras mais complicada quando as chaves se encontram trancadas no porta-mala.

Sim, uma situação vergonhosa. Assim como no segundo post do blog, não vejo minhas glórias automotivas se materializarem como nas velhas músicas de rock ‘n’ roll. Saí a pé pelas redondezas do posto em busca de algum chaveiro que estivesse de plantão e pudesse ser capaz de arrombar a porta do meu carro, resgatando a chave rebelde. Detalhe que, enquanto isso, com o carro estatelado em frente ao calibrador, ninguém mais no posto calibrava pneus.

Minha busca foi extremamente mal sucedida. Não tive outra opção senão apelar para a solução última, ligar para o seguro. Fui atendido pela simpática Sílvia:

- Boa tarde, qual é o problema?

Neste momento, por alguma razão, senti uma súbita vergonha de toda a situação. Sim, tenho plena consciência de que a probabilidade de eu não conhecer Sílvia e de nunca vê-la em toda a minha vida é absurdamente alta. Mas, ainda assim, me vi sem-graça, sem saber como explicar a ela de uma maneira minimamente satisfatória como fui responsável por feito tão pouco grandioso como esse.

Foi quando, em um repentino lampejo de esperteza e sabedoria, as palavras adequadas me vieram à cabeça:

- Bem Sílvia, o que aconteceu foi que o carro foi trancado e a chave estava dentro do porta-malas...

Sim, sim, “o carro foi trancado e a chave estava dentro do porta-malas” !!!
Quanta perspicácia, quanta sagacidade!
O contexto adverso era incrivelmente contornado através da utilização da propriedade básica da voz passiva, que realça o OBJETO da ação, e não o SUJEITO! (dá-lhe aulas de português da 7a série)

Mas para a minha surpresa:

- Tá... OK senhor Marcelo, então o que ocorreu foi que o senhor trancou o carro com a chave dentro, certo?

Eu, desanimado:

- É, ou isso...

Fico aqui me perguntando por que os grandes gramáticos criam as regras do Português, já que as pessoas depois teimam em não respeitá-las.

domingo, julho 02, 2006

Brasil x Croácia

Naquele dia o pessoal do meu trabalho começou a sair por volta das 15h. Como não estava com a menor vontade de ficar pegando engarrafamento ou me esmagando no metrô por causa de um jogo do Brasil que nem ver eu ia, decidi ficar por lá mesmo, lendo algumas coisas e fingindo ser este um dia completamente normal. (nota para os desavisados: eu odeeeeeio futebol...)

Minha academia estaria aberta novamente a partir das 18h, então decidi sair do trabalho direto para lá. Quando eram 19:30h, aprontei minhas coisas e fui para o metrô.

Quando o trem chegou, UMA MARAVILHA! Os vagões estavam ABSOLUTAMENTE VAZIOS, eu podia me dar ao luxo de escolher o assento que quisesse, de me esparramar à vontade! Era a primeira vez que presenciava tal cena neste horário em um dia de semana. Nunca a viagem do Centro até a Tijuca havia sido tão prazerosa e agradável. Ei, até que a Copa do Mundo não era tão abominável assim, e também tinha lá seus lados positivos. Pasmem, o ocorrido afetou minha cabeça a ponto de eu cogitar minha desafiliação da comunidade "Odeio Copa do Mundo" do Orkut.

Quando chego na academia, encontro a grade levantada e as luzes apagadas. FECHADA! Olho para a esquina e vejo uma das principais ruas da Tijuca também fechada, ocupada por um enxame desses novo-patriotas da Copa que tomaram o país desde o início do mês passado. Alguns dias depois falei com o Leo, dono da academia, que me contou que eles de fato tentaram abrí-la, mas que o pessoal do Alzirão entrou na rua fazendo algazarra, brigando, sujando a calçada e mijando na porta dos prédios. A PM recomendou que, por questões de segurança, eles não abrissem o local.

Voltei a odiar a Copa do Mundo.

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Por essas e outras que não estou particularmente triste com a derrota do Brasil para a França. Aliás, tento até, com certo ar de vergonha, esconder uma ponta de felicidade. Posso listar aqui infindáveis razões para tanto:

1) O país volta à normalidade com uma semana de antecedência.

2) A Rede Globo não vai ficar enchendo o nosso saco daqui a 4 anos com o mote de que "o povo brasileiro precisa do hepta". Será que ninguém percebe que este maldito ciclo não acaba nunca? Não é como se existisse uma quantidade-limite de campeonatos mundiais que uma dada seleção pudesse ganhar, e você simplesmente passasse a ser um hors-concours a partir de um determinado momento.

3) Vocês já perceberam como os títulos das conquistas do Brasil soam cada vez piores à medida que a seleção vai ganhando campeonatos? Em 2002, eu já tinha achado péssimo que dali a 4 anos estaríamos em busca do HEXA. Mas depois dele vêm o HEPTA, o OCTA... e o ENEA! Convenhamos que ficar só com o TRI soa muito melhor.

4) Não vou precisar mais olhar para a cara do Parreira, do Robinho ou do Ronaldinho na 1a página dos jornais todos os dias às 7:30h da manhã. Se pelo menos "a paixão nacional" fosse o tênis feminino... E olha que torneio do Grand Slam tem o ano inteiro, todos os anos.

E, vejam só, ainda vou poder ir na academia na 4a feira!