domingo, março 27, 2005

Diálogos

- Sabes, tu tens muitos traços egípcios. Teu rosto me faz lembrar o de Tutancâmon, o grande faraó! Tens ascendência no Egito?
- Ahn? Pô, não...
- Nossa, sério? Tens certeza disso??
- Tenho, claro. Minha família veio do Líbano e da Itália...
- Aaaaaah... então está explicado!


(Só se for para ele...)

***** *****

- Você é evangélico?
- Eu?? Não, não! Para falar a verdade até passo bem longe disso...
- Ah, porque você parece evangélico. Tem jeito, sabe. Transparece esse ar calmo, está sempre arrumadinho, de terno e gravata... E você também tem uma energia boa, e a transmite à sua volta.
- Olha, essa parte da energia pode até ser, alguns pessoas já me falaram isso antes. Mas, quanto ao resto, não sei não. Eu nem tenho religião. Não sou muito ligado a essas coisas...
- Mas para mim você deve estar no caminho de Deus. Sabe, quando a gente está no caminho de Deus, não tem como fugir. É tiro e queda. Vai por mim! Você está lá, só não viu ainda.


(Céus, mal sabe ela que a última coisa que eu quero é ficar no meio do caminho dos outros...)

***** *****

Em um sinal de trânsito na Lagoa, perto do Clube do Flamengo:

- Nooossa! Você com esses cabelos escorridos e óculos escuros, sabe com quem parece??

- Com quem...

(com aquela típica cara de incredulidade e dizendo para mim mesmo que "Lá vem bomba...")

- Com aquele ator, sabe? Qual é mesmo o nome dele... aquele... ah sim... o Brad Pitt!!
(Minha expressão de incredulidade obviamente só piorou... e foi difícil, mas também consegui disfarçar o riso na hora)

- Será mesmo? Sei não, nunca tinham me dito isso antes...

- Parece sim, é igualzinho até! Escuta, deixa eu te perguntar uma coisa. Você acha esse meu shortinho vulgar? É porque os dois ali estão implicando comigo
(apontando para os vendedores de fruta que estavam nas outras pistas do sinal), dizendo que meu short é muito curto e vulgar.

E em seguida a mulher se aproximou de mim e me mostrou o seu short com mais detalhes. Que era de fato extremamente curto e vulgar.

- Imagina, não está vulgar não. Fique tranqüila.

(Ei, não sou eu quem vai botar mais lenha na fogueira de alguém que não conheço. Muito menos de alguém que me olha e acha que sou igualzinho ao Brad Pitt...)

***** *****

Ainda bem que a gente não leva essas coisas muito a sério. Pare para pensar, imagine o que não seria um faraó egípcio evangélico que é a cara do Brad Pitt...

domingo, março 20, 2005

Revelações subterrâneas

Há 1 ou 2 meses atrás aconteceu uma coisa estranhíssima comigo. Era uma 2a feira de manhã, por volta das 7 horas, e eu estava no metrô, a caminho do estágio. Para me distrair na viagem, catei a "Veja" lá de casa e levei-a para ler no caminho. Como já sabia de antemão que na "Estácio" o trem ficaria entupido com a entrada do turbilhão de pessoas que sempre aparecem naquela estação, tratei logo de me encostar na parede do lado da porta. Assim eu sofreria menos com o esmagamento tão comum naquele transporte público em que "anda toda a qualidade de vida do Rio de Janeiro". E de repente até conseguiria um espacinho vazio para continuar minha leitura em paz.

Que foi o que de fato eu consegui fazer. Ao menos em um primeiro momento. Foi então que, sei lá porque, caí na besteira de desviar meus olhos da revista por alguns instantes e olhar à minha volta. Sabe como é, aquela coisa que mistura um pouco de curiosidade e instinto, que faz você involuntariamente querer tomar conhecimento do que está acontecendo à sua volta. Esse foi meu erro. Assim que olhei para a minha esquerda, já havia um velho grisalho e barbudo olhando para mim, e, no exato momento em que nossos olhares se cruzaram, ele começou a falar comigo. Mas calma lá, não era um daqueles papos de "velho com jovem" típico de lugares públicos, em que o sujeito lhe diz um "Olá" e já se acha no direito de contar toda a sua infância para você, de enfatizar como "os tempos de hoje são diferentes", e de quão absurda tal situação é. Não foi assim, até porque não teve nem "Olá". Na verdade, o velho já começou sua fala no meio de uma frase. É sério, era como se nós já nos conhecêssemos e houvéssemos tido um baita papo antes, e ele naquele momento estava apenas retomando o diálogo interrompido. Dado que ele já estava olhando para mim quando o fitei, parecia que ele estava apenas esperando que eu o olhasse para que começasse a conversa. Não me foi dada a menor opção de escolha de querer ou não participar daquela interação. O velho falava, falava, falava ininterruptamente, sem parar de fitar nos meus olhos por uma fração de segundo que fosse. Um dos aspectos mais desesperadores era justamente que ele não parava de falar ou me olhar, logo eu não tinha nenhuma chance de tentar desconversar ou interromper o "diálogo". Eu olhava para as pessoas à minha volta, buscando algum tipo de ajuda, ou pelo menos algum tipo de comoção com a minha situação, algum olhar de solidariedade, alguém que estivesse ao menos percebendo o que estava acontecendo, sei lá. Mas nada. Parecia que cada pessoa estava olhando para um canto diferente do trem e ninguém se dava conta da simples existência do velho. Igualzinho àquelas cenas de filme, em que o personagem é assolado por visões que ninguém mais tem e começa a ficar louco. O pior mesmo era que, como o metrô estava lotado, o barulho das pessoas falando era ensurdecedor, e com isso eu não conseguia entender quase nada das importantes coisas que o velho tinha para me dizer. Obviamente, adotei a melhor tática para quando alguém está falando coisas sérias para você e você não tem a menor idéia do que se trata: o sinal afirmativo com a cabeça. Ele falando sem parar e eu lá, apenas concordando com tudo com a cabeça, torcendo para que ele no meio daquelas frases não me fizesse nenhuma pergunta que tivesse uma resposta diferente de "sim" ou "não (coisa que, pelo andar da carruagem, definitivamente parecia que não ia ocorrer). Mas, para ser menos radical e falar a verdade, eu de fato consegui distinguir três das palavras dele: "tempo", "Deus" e "amor". Pelo menos uma vez por frase eu conseguia ouví-lo dizendo uma destas palavras. Se eu tivesse que chutar, diria que todo o discurso era algo relacionando "a falta de tempo de hoje em dia" e com "a falta de Deus e amor" no coração das pessoas. Hum, ou não. Acho que não havia nada parecido com "coração" no meio daqueles balbucios dele.

A aparência do velho tornava a cena ainda mais surreal. O cabelo branco todo desgrenhado e comprido, bigode e barbão, parecia mesmo um daqueles profetas da Bíblia ou anjos que Deus costuma enviar para falar com os homens nas produções de Hollywood. Na hora, realmente achei que o que estava acontecendo comigo era um fenômeno sobrenatural, de Deus puxando a minha orelha e tal. Só podia ser isso. Não por acaso... Apesar de ser agnóstico, no dia anterior (domingo), eu havia tido um baita papo com Deus (papo esse que, algum dia, deverá se tornar um post para o blog), em que me dei ao direito de tirar algumas satisfações com Ele, sabe, lhe dizer umas boas (e outras más) verdades.

Apesar de, na hora do ocorrido, ter sacado logo que aquilo era alguma armação de Deus, depois de pensar sobre o assunto ao longo do dia, concluí que só poderia estar enganado. Não seria muito inteligente da parte de Deus mandar um de seu anjos falar comigo em um lugar tão barulhento como um trem de metrô encachapado. Eu, no lugar dele, se estivesse realmente preocupado em transmitir alguma "mensagem" para alguém, com certeza iria escolher no mínimo um lugar em que se pudesse ouvir o que eu estava querendo dizer...

sábado, março 12, 2005

"A volta para casa"

(escrito no domingo, dia 30 de janeiro)

Na volta de ontem, acabou que fui mesmo deixar a Aninha em casa. Mas, ao chegar a um cruzamento a poucos metros do bar, virei à esquerda, quando na verdade deveria ter tomado a direita. Fui parar em frente a uma praça retangular enlameada, repleta daqueles brinquedos infantis, como escorregas, gangorras, trepa-trepas, etc. Quando ainda estava olhando em volta do lugar, tentando me localizar de alguma maneira, vejo subitamente uma criatura hedionda e gigantesca surgir por debaixo da lama, derrubando até alguns dos brinquedos da praça. Com uma força descomunal, arrancou bruscamente o trepa-trepa do chão e engoliu-o de uma só vez (sem ao menos mastigar!). Eu e Aninha olhávamos para aquilo completamente paralisados, sem acreditar na visão aterrorizante que estávamos presenciando. De repente, já parecendo estar saciado com a deglutição do trepa-trepa, o ser passou a arremessar os outros brinquedos em cima de nós. A gangorra chegou inclusive a arrancar nosso espelho retrovisor esquerdo. Desesperado, mas finalmente esboçando algum tipo de reação, engatei a primeira e tentei sair com o carro em disparada. Visivelmente desagradado, o monstro mostrou mais um de seus dotes e cuspiu uma enorme bola de fogo, colocando meu veículo completamente em chamas. Era uma cena digna de filme. Continuei acelerando o máximo que podia e virei a esquina, saindo finalmente de seu alcance. Mas as chamas continuavam, cada vez mais, tomando conta do carro... Nesse momento a fumaça já estava a ponto de nos sufocar. Num pensamento rápido, dei uma guinada com o volante e atirei o Palio no canal, poupando com isso nossas vidas. Tive de ajudar Aninha, ainda em estado de choque, a nadar até a margem. Por estar completamente desmaiada, carreguei-a no colo durante toda a caminhada de intermináveis quilômetros até sua casa. Lá, sua mãe, bastante assustada, deu-lhe um banho e colocou-a para dormir. Também foi bastante gentil comigo, me oferecendo chá quente e cobertor para passar a noite. Apesar dos pesadelos horríveis ao longo de toda a madrugada, consegui, finalmente, repousar com um mínimo de paz.

Pior é depois ouvir as pessoas reclamarem quando chamo a Barra da Tijuca ou o Recreio de "pântano".

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OK, está bem, admito, não fui nem eu quem deu carona para a Aninha na saída do Shennanigan's (sei lá como se escreve essa porcaria). Foi a Roberta, que tinha parado o carro mais perto do bar... Não me pergunte o que deu em mim quando resolvi escrever esse texto.

Eu sei, algo me diz que preciso parar de ficar vendo filmes de terror com tanta frequência.